Friday, October 12, 2007

REDUZIDO A PÓ

Rajadas do que não farei
Do que, necessário e urgente, nunca farei,
nem que a vida fosse prensada e expandida na porrada

Linhas de força cortando a carne, e os desejos da carne,
um desejo comendo a inerme carne e sem desejos
que, não importa, não satisfarei

Campo magnético, o verso e o reverso
Minha vida de ponta a cabeça, os pés pelas mãos, os anéis
e os dedos, buraco negro, espiral que a tudo sorve (onde fica a saída?)

Tsuname chamado ansiedade

Thursday, October 11, 2007

SÊNECA

para onde penso que estou indo
com esse meu ar de homem ocupado?

só a filosofia compensa, ultrapassa o tempo,
reconcilia o homem consigo mesmo
e o prepara para morrer

penso em viver, quando não
em morrer de ri

Thursday, October 04, 2007

INFÂNCIA

Há quem diga que a experiência finita do tempo dentro da vida, esse sentimento em tudo diluído de impermanência distinguindo no amanhã o ontem, fincado embora na emergência do hoje, deixando os anéis que sempre se vão escapar entre os dedos, nunca que os mesmos dedos já exilados de anéis, Há quem diga que se chama lembrança, o mesmo que saudade, ou melhor, que deixar-se morrer devagar e aos poucos. Minha melhor lembrança é de não pensar, na infância, que morreria algum dia.

Wednesday, October 03, 2007

OS PÃES E OS DIAS

Pretende Neruda que esperemos, posto que Há outros dias que não têm chegado ainda, que estão fazendo-se como o pão. Há porém os dias que de tanto fazerem-se estão prontos. Chegaram há pouco da fábrica dos dias que virão, fresquinhos e ainda na caloria que emana do esforço de fazer-se, de presente para os que trabalhamos, às vezes sem saber, na fabricação do que fica pronto e do que continua fazendo-se, como esse dia agora, dia coisa precisa, dia pronto de Pedro, de Pedro Calminho, Pedro Zen.

Monday, October 01, 2007

UMBIGO DO MUNDO

E se o umbigo do mundo fosse cada coisa que existe, a que nos prenderia ou do que nos privaria? Se o umbigo do mundo fossem os pés, que caminhos percorrer descalços, que passos andar, meditando em silêncio, ou tal como Alice interrogando o gato, perguntar Que caminho devo seguir para sair daqui? E se o umbigo do mundo fossem as unhas? Haveria grande virtude no retirar as farpas e no espremer espinhas, e grande desprezo no cuspir as lascas arrancadas pelos dentes. E se o umbigo do mundo fossem as orelhas? Para esquecer aparelhos vermelhos, auscultar pulsos de pássaros, instalar internet e telefones mudos. E se o umbigo do mundo fosse a lágrima? A lágrima que, disse Mia Couto, Nos universa, nela regressamos ao primeiro início (a primeira lágrima da primeira dor e do primeiro sorriso). O umbigo, se fosse o umbigo do mundo, nunca que dele se perderia o vagido da terra mãe no instante em que se corta e dele se solta e se perde. Do que se enfeitaria como um piercing o umbigo do mundo?