Thursday, November 19, 2009

EXISTIR EM BRANCO E PRETO

Nas paredes do prédio antigo o restaurador encontrou cinco camadas sucessivas de tinta sobre a pintura original. Entre a terceira e a quarta eles estavam lá, faz muito tempo. Os nomes ecoando por dentro, a gritaria das crianças levando adiante o domingo, a cozinha temperando com cheiro próprio o aroma da família, os velhos que não se animavam a descer (não fazia frio), as sensações comuns, os pequenos sentimentos ou a falta deles, coisa que a indiferença de viver enquanto vivemos deposita no tempo que vai passando, o sofrimento quando a doença aproximou do fim e o fim mesmo, a ausência de tudo depois que acabou e os novos moradores mudaram enfim a cor das paredes.

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