Monday, October 26, 2009

DE VOLTA AO COMEÇO

vejo o retorno logo adiante
saindo à esquerda, numa
transversal do tempo

não posso sair, no entanto
desse lugar que está em mim
como num sonho

desse tempo também
desse instantâneo, esse rosto
feliz no retrovisor

Monday, October 19, 2009

GUARDADOR DE OUTROS REBANHOS

O gol olímpico do Petkóvic
saúda o Rio, o que corre em mim
em flamenguíssima linguagem própria:
o Pão de Açúcar é o Olimpo, enfim!

Friday, October 09, 2009

DIA DE FÚRIA

chamar a mim todas as mazelas
do mundo, desafiar com elas
o músculo frouxo dos magricelas
o hímen roto das donzelas
o coxo Adão, a mística costela
e devolver sem culpa
rima ou seqüela

Sunday, October 04, 2009

MAR TATUADO

– mar é macho, não é
lagoa (elas dizem, seduzidas)
quebra pedras, joga-se, musculoso
contra o arrimo dos muros

mar é brabo, bicho solto
põe medo só de ver
tira onda, violenta, faz espuma
(elas não querem pra si)

insinua línguas, obsceno
(excitadas, regurgitam marés)
mar é macho, e no entanto
ressaqueado menstrua

Saturday, October 03, 2009

MEIA VERDADE

foram-se as paixões, restaram
o tempo de esperar que não se fossem
e o medo que retornassem

o medo e o tempo diluindo tudo na claridade
azulada de um dia feliz de domingo

o tempo e o medo, expressos
tão simples e indescritivelmente comuns
que já nem sei desdizer