Monday, November 30, 2009

EXISTIR EM NEGRO

Ou, para alguns, nem existir. Aprendi que o preto é ausência de cor e que ausência mistura-se com perda, confunde-se com luto, a face mais visível da dor por dentro e por fora. Também aprendi o quanto seduz o negro, pelo que não se mostra e pelo que obstinadamente quer mostrar, cultuando suas próprias cores no recesso da luz. É no escuro que o fotógrafo faz convergir seus varais em paralelas impossíveis. Na inflorescência dessas nenhumas cores lembrei de Cláudio; ele era assim, sedutoramente negro nas roupas e nos dentes, ensinando filosofia entre assovios nas cavernas míticas de nossas mentes obscuras, num período esplendorosamente trevoso daquelas vidas adolescentes, lá pelo final dos anos setenta. No alto das escadarias do ICHF, quase todo fim de tarde, lá estava ele, qual fênix negra recém chegada de indescritíveis tragédias ancestrais, reduplicando seus próprios temores, ao redor, ao longe e para sempre.

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