Wednesday, April 25, 2007

MONÓLOGO

muitas línguas
descrevem o universo

palavras contemplam
espelhos de equivalência

o mundo sustenta
seu próprio peso no nada

nenhum entendimento
em favor da procura

o riso da face oculta
pende indecifrável

ninguém conhece ninguém

Monday, April 09, 2007

GRUSSAÍ ETERNAMENTE

O azul do céu junto ao mar é tão bonito! O vento invisível também é bonito, aprisionado no movimento que impõe sem cessar às coisas de peso escasso e plano. Tão lindas são as pessoas procurando o mar num fim de semana, saindo de suas casas aos bandos, pescadores de um mergulho surpreendido no peixe que não trazem. Ou, quer saber, que afinal nem procuravam posto que um mergulho é apenas um mergulho e as pessoas não são mais do que elas próprias, bonitas como elas próprias, não como pássaros no ofício sobrevivente de pescar. São tão bonitas as ruas nessa vilazinha lambida de mar que o sol forte dissolve em poeira e que o vento amontoa em terreno irregular num traçado sem lógica e que a prefeitura não manda calçar só para não quebrar o encanto. Ou que manda calçar algumas apenas, porque também há quem tenha pressa no andar e no correr de automóvel, seja para o desfrute, seja para escapar urgente do silêncio ou da poesia de uma cidadezinha qualquer. O mar de cor imprevisível é tão bonito! As ondas que vêm e vão em direções contrárias, e as que vêm em direções contrárias numa pororoca de suores, e as que vão em direções contrárias que as sereias chamam de muitas direções, e a espuma branca contrastando ontem com o chocolate, hoje com o severo verde militar, amanhã, quem sabe? Com o translúcido verde de todas as águas. Tão bonito aquele oásis no areal imenso sob um céu incomensurável à beira de um mar desmedido que parece debruçar-se na praia, tão frágil aquele oásis de madeira de mangue e cobertura de palmeira, batido pelo vento incessante e pelo burburinho das pessoas que procuram o mar de mergulho, as crianças que não querem sair, os velhinhos que gostariam de entrar, os que estão vivos, os que vão morrer... Lembra nonagenária a avó de Saramago dizendo O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer, porque, vamos que não apareça ninguém mais comovido.

Friday, April 06, 2007

PASTO ÀS VISTAS III

roupa suja
se lava no mar
emborcado no céu

meus olhos
perdidos no fim
(o fim que procuram)

lonjura blue
sobre nossas cabeças
respingam mais

são nódoas pequenas
tintura breu, sim
papo cabeça

e nuvem
nenhuma

Wednesday, April 04, 2007

PASTO ÀS VISTAS

serena nuvem
uma só e tantas
espuma de leite gordo
nos campos do céu
ora campeiro
ora vaca bojada
espuma de mar batendo
contra si contra o sol
na cálida manhã
que abriu
espuma de sabão em pó
esgarçada em tantas
faxineira só
dos meus olhos
grandes