Friday, January 18, 2008

O AVIÃO

Nem ronco nem nada
no silêncio altíssimo da noite
O avião, como um ovni, cruza o caminho
congestionado de estrelas
rumo a Pequim

O que vem lá
que se afasta de mim?
O avião, talvez,
num adensamento de luz
e sombra, que na distância se perde
(desaparece aqui, surge acolá)
envolto na escuridão
Sim, o avião, e mais nada
e nada sei de
Pequim

Quem vem lá
desconhecido de mim?
O cavalheiro que dorme, a bolsa
de mão nas algemas,
a moça que sonha outro sonho
alheio às estrelas,
a senhora que não quer
nem pouso, nem decolagem
(mais chegadas e partidas
por saber e olvidar)
Todos e nenhum
sem saber de
Pequim

O avião, contrário
à direção de mim, até sumir
Inútil buscar, com esses
pés de Mercúrio,
vestígios do que enfim se perdeu,
suspenso do chão: aqui ou
lá, ó deus dos ladrões,
o mesmo vôo ermo de passageiros,
a mesma ambígua memória
de ovnis e estrelas e,
não sei por que,
também de
Pequim

1 Comments:

Blogger Vanessa Oliveira said...

Existe, de fato, uma sensibilidade refinadíssima em suas palavras! Você tem um talento admirável! Abraços. Vanessa Oliveira

9:36 PM  

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