Thursday, January 17, 2008

CASA PATERNA

Itaperuna é longe
Mais longe ainda imaginar
a cidade sem a esquina
e as histórias do sobrado antigo

Do acordar ao deitar-se,
uma história diurna de segredos
e medos; outra intemporal
e noturna, entre o adormecer e o milagre
de se pôr uma vez mais de pé,
rompendo a escuridão
Histórias tão diferentes, das coisas
e seus nomes,
dos lugares, seus achados e perdidos,
na experiência nômade
de cada um

Um osso de frango,
fóssil esquecido na poeira,
desvelado ali, no sábado, em que
se afasta o guarda-roupa
O número do telefone ganhando
um dígito por década
A mobília, que nunca soube o que é
mudança, indispensável, posse
ancestral da família
A pilha perfumada de toalhas e lençóis,
sem ranhuras e sem câimbras,
aguardando uso

Os nomes são outra história,
herança grega, herança de Ibéria,
projetos inefáveis articulando
a cósmica vogal inicial,
o sagrado graal
em decúbito, desde sempre inscrito
no nada, quebrado pelas pias
promessas de cura,
pelas misturas de favor
e fervor, na graça divina,
e os novíssimos nomes de agora,
quase sem história

Itaperuna, tão longe,
tão perto, eis tudo que restou,
embaciado num hálito de mistério:
este lar paterno

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Os pedaços de memória se espalham pelo seu poema e se juntam em mim, aqui, nesta Itaperuna de tantas lembranças, para compor também as lembranças da minha "casa paterna".
Você é cara.
Beijos, Lê.

2:30 PM  

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